Estratégia de tratamento das DIIs na gestação e amamentação
Por Dr. Juliano C. Ludvig
Médico, Especialista em Gastroenterologia
O manejo das doenças inflamatórias intestinais (DII) durante a gestação e a amamentação requer considerações cuidadosas sobre a segurança e eficácia dos medicamentos. A manutenção da remissão da doença é crucial, pois a atividade ativa da doença pode apresentar mais riscos para o feto e a mãe do que o tratamento em si. Aqui está uma visão detalhada dos medicamentos comumente utilizados para DII durante esses períodos:
Aminossalicilatos (Mesalamina, Sulfassalazina):
- Uso na Gestação: Geralmente considerados seguros durante a gravidez. A sulfassalazina requer suplementação de ácido fólico devido ao seu potencial de diminuir os níveis deste nutriente.
- Uso na Amamentação: Seguros para uso durante a amamentação. A mesalamina é excretada no leite materno em pequenas quantidades, mas não é esperado que cause efeitos adversos ao lactente.
Corticosteroides(Prednisona, Budesonida):
- Uso na Gestação: Frequentemente utilizados para controlar surtos agudos. Prednisona é relativamente segura, embora possa estar associada a um leve aumento no risco de lábio leporino quando usada no primeiro trimestre.
- Uso na Amamentação: A quantidade de corticosteroides excretada no leite materno é baixa e geralmente considerada segura para o lactente.
Medicamentos Biológicos:
- Infliximabe, Adalimumabe, Golimumabe: Estes agentes anti-TNF são relativamente seguros durante a maior parte da gravidez. Estudos indicam que o risco de malformações congênitas não é significativamente maior do que o da população geral. Contudo, como atravessam a placenta a partir do terceiro trimestre, recomenda-se avaliar a suspenção ou não considerando a atividade da doença (que é o real risco para o feto).
- Certolizumabe: Tem a vantagem de não atravessar a placenta devido à falta de fragmento Fc, o que o torna uma opção segura durante toda a gravidez.
- Vedolizumabe: Um anticorpo monoclonal que atua bloqueando a migração de células inflamatórias para o intestino. É considerado seguro para uso durante a gravidez, pois age de forma mais localizada e tem menor risco de causar imunossupressão sistêmica.
- Ustequiinumabe: Dirige-se às interleucinas IL-12 e IL-23, com um perfil de segurança promissor, mas os dados ainda são limitados. As recomendações atuais sugerem que pode ser considerado durante a gravidez se os benefícios superarem os riscos. Não há dados suficientes sobre sua excreção no leite materno ou seus efeitos na amamentação.
Uso na Amamentação:
- A maioria dos biológicos é considerada segura para uso durante a amamentação. Eles são moléculas grandes que não são bem absorvidas pelo trato gastrointestinal do bebê, o que minimiza o risco de efeitos adversos.
Pequenas Moléculas (Tofacitinibe e Upadacitinibe):
- Tofacitinibe: Devido a preocupações com a segurança e a falta de dados extensivos, geralmente não é recomendado durante a gravidez e a amamentação. Estudos em animais mostraram algum risco de teratogenicidade, e ainda não há dados suficientes sobre sua segurança em humanos durante a gravidez.
- Upadacitinibe: Devido à falta de dados clínicos robustos e os achados preocupantes em estudos animais, é geralmente aconselhado contra o uso durante a gravidez a menos que o benefício potencial justifique o risco ao feto. A FDA categoriza upadacitinib como uma droga da categoria C para uso durante a gravidez, o que significa que estudos em animais mostraram efeitos adversos sobre o feto, e não há estudos adequados e bem controlados em humanos.
Antibióticos (Metronidazol, Ciprofloxacina):
- Uso na Gestação: O uso de antibióticos específicos depende do perfil de segurança de cada medicamento. O metronidazol é geralmente evitado no primeiro trimestre.
- Uso na Amamentação: Alguns antibióticos podem ser usados com precaução; o metronidazol é excretado no leite materno e pode ser contraindicado.
Considerações Gerais
- O monitoramento regular por um médico é essencial para ajustar os medicamentos conforme necessário e para garantir a saúde tanto da mãe quanto do bebê.
A decisão sobre quais medicamentos usar deve sempre equilibrar os riscos e benefícios, considerando a atividade da doença e a segurança do feto ou do lactente.
Ao lidar com DII durante a gravidez e a amamentação, é crucial manter uma comunicação estreita com um gastroenterologista e um obstetra para garantir uma gestão segura e eficaz da doença.
LEGENDAS:
DURING PREGNANCY = DURANTE GESTAÇÃO
DURING LACTATION = DURANTE AMAMENTAÇÃO
LOW RISK = BAIXO RISCO
AVOID= EVITAR
AVOID 1T= EVITAR 1 TRIMESTRE
LIMITED DATA= POUCOS DADOS
NO DATA;AVOID= SEM DADOS;EVITAR
CONTRAINDICATED=CONTRAINDICADO
THIOPURINAS= AZATIOPRINA, 6 MERCAPTOPURINA
ANTITNF= INFLIXIMABE/ADALIMUMABE/GOLIMUMABE
Dr. Juliano C. Ludvig é Médico, Especialista em Endoscopia Digestiva pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva – SOBED e Especialista em Gastroenterologia Clínica pela Federação Brasileira de Gastroenterologia – FBG. É Coordenador Regional da ABCD - Associação Brasileira de Colite e Doença de Crohn. É Membro Titular do GEDIIB - Grupo de Estudos das Doenças Inflamatórias Intestinais no Brasil. É Chefe do Setor de Gastroenterologia do Hospital Santa Isabel e Presidente do Centro de Estudos do mesmo hospital. Tem Residência Médica em Clínica Médica no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e Residência Médica em Gastroenterologia no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Também é International Member of the American College of Gastroenterology e International Member Of the ECCO - European Crohn’s and Colitis Organization.
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